sábado, 16 de agosto de 2008

vontade








Na ímpia certeza da loucura
escorrem por entre as bocas
as letras que nunca te escrevi.

Deslizam as gotas de suor nos corpos
amassados pelas bocas
da luxúria consentida.

Percorro as ladeiras do teu corpo
com a minha língua sôfrega que lambe
as feridas da batalha dos amantes.

Devoram os olhos as intenções amalgamadas
pelos desejos percorridos,
consentidos, viciados na sedução.

Vivo apenas o que não vivo,
assassinado nas entranhas do teu desejo
feito escravo em tuas mãos peregrinas.

Mãos que percorrem os sentidos orgásticos
desse amanhã que já hoje vivemos
nesse futuro morto pelo presente.

Tenho vontade de ti
do tactear da tua boca que me percorre
e me desfaz em mil átomos.

Tenho vontade de ti
dos desenhos que as tuas garras
riscam em mim.

Tenho vontade de ti
e desse mundo inventado só para nós
nos desfiladeiros da insensatez.

Tenho vontade de cada letra
que grita por entre silêncios
nas entrelinhas dos murmúrios.

serei eu?








ANJO CAÍDO


Eu sou palavra, poesia, sonho e ilusão,
sou palco, sou teatro,
sempre em mim uma canção.
Eu sou mistério, pássaro de fogo,
andorinha, primavera,
Outono, chuva e sol,
nuvem triste, céu azul.
Sou avião, descobridor,
sou amor, sou paixão,
irreverência, imperfeição,
sentir e tanta dor.
Eu sou segredo, inconfessado,
mar salgado, beijo eterno,
sou rosa púrpura,
sentimento, esperança e desalento.
Sou sorriso, gargalhada,
lágrima que cai,
cristal partido,
sou amigo, impulsivo,
luz de vela, sombra lunar.
Eu sou teimoso,
cavalo alado,
lutador e conquistador.
Sou estrela, cadente, criador,
criatura, caminhante da aventura.
Eu sou fraco, corajoso,
herói e vagabundo,
das estrelas e dos mares
que brilham em todo o mundo.
Sou fogueira, amor carnal,
absinto e Carnaval,
sou loucura, irresistível,
folha de papel, e de jornal.
Eu sou alegria, e vida,
sou amante,
simples, complexo,
paz, inquietude, flor de sal,
brisa fresca, arrepio, alfabeto.
Sou natureza, rio que passa,
sentimento de beleza,
don Quixote, don Juan,
Casanova, ex-galã.
Sou montanha, escarpa e tempestade,
vale, sossego,
pensamento de fazer medo.
Sou abraço, abraçado,
sensualidade, permissivo,
apenas homem.
Ou anjo caído.


quinta-feira, 14 de agosto de 2008

"você vai precisar de uma mulher a cada livro"







pergunto-me até que ponto esta afirmação, ou diagnóstico, de Scott Fitzgerald para com Hemingway, quando se conheceram em Paris, fará algum sentido, ou terá alguma consistência...será que é sempre a outra mulher que o poeta procura? aquela mulher que, como gota de água em solo desértico, é necessária à sobrevivência do seu míster poético? será que é sempre a próxima mulher que fará com que o poeta se transcenda e ultrapasse a barreira da imaginação e da criatividade? será que a poesia do poeta se desenha em peles macias e ambarinas, escorrendo por entre as pregas de um corpo amado? porque será o poeta um insatisfeito? porque todo o humano é insatisfeito? porque será o poeta um permanente descobridor de sensibilidades e emoções que armazena em si próprio para mais tarde crucificar no papel? porque será o homem ou a mulher esse objecto de intenso desejo posteriormente dissecado em rimas, prosas ou delírios literários de toda a ordem? porque o humano é um ser que precisa sempre de algo mais. de mais prazer, de mais felicidade, de mais amor, de mais risco, de mais aventura, de mais poder, de mais sol, de mais lua, de mais beijos, de mais abraços, de mais água, de mais sorrisos, de mais palavras. porque será o poeta o coitado sobre quem recai o castigo? o dedo acusatório? a incompreensão dos restantes humanos? pobre poeta e escritor. feliz do poeta e escritor.

vontade, preguiça, indolência, agosto?








ando com aquela vontade de para nada ter vontade. ando com aquela vontade de deixar morrer o tempo na ânsia de ressuscitá-lo e esperar que me acorde deste torpor. sinto-me amorfo, imaterial, massa humana que se arrasta no arrastar dos ponteiros. olho os pombos que defecam onde poisam, debicando beatas de cigarro, folhas mortas, que andam para trás e para a frente. sem rumo. vida insípida, defraudada de futuro. limitada entre duas asas. mas o pombo voa, e com ele voa a liberdade. eu não voo, mas sou livre.

ando com aquela vontade de ter muita vontade que algo aconteça. expectante. delirante. viciante. ando com aquela vontade de ser recuperado por um anjo de seios perfeitos, de mãos ousadas, de olhar perturbador, de corpo moldavel aos instintos do meu prazer. olho o mendigo que estende a mão à sensibilidade da senhora altiva que por ele passa tornando-o ainda mais mendigo pela sua atitude de indiferença. merda de mulher, penso para comigo. merda de sociedade, deixo escapar entre dentes.

ando com aquela vontade de preguiçar. de deixar que sejam as palavras a puxar por mim, a arrastar-me para o seu delírio de ideias e composições poéticas. ando com aquela vontade de explodir em mil sons, em mil tons, em mil orgasmos e saber que, afinal, ainda estou vivo. olho o mês de agosto que transforma a cidade num pardieiro quase fantasma, cidade que permite evacuações auto consentidas para paragens mais ou menos longínquas. tenho a cidade para mim. e nela o anjo que me virá resgatar com o seu sorriso, a sua boca, o seu olhar colorido por desejos (in)confessáveis. pelo seu corpo feito poema e que me fará de novo viver. e no viver reinventar a escrita.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Estradas Repletas








Este blog em particular, e a blogosfera em geral, ficam mais bonitos e enriquecidos a partir de hoje com a entrada em órbita do novo blog de Natália Bonito.

Consultem http://www.estradasrepletas.blogspot.com/ e sorriam com o perfume poético que dele emana.